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Imagem: It's Kimby |
Parte de mim quer calmaria. Outra parte quer apenas sacudir
a poeira, dançar loucamente e escutar música no último volume. Parte de mim
quer se perder em festas e agito. Outra parte quer se perder em uma boa
leitura. Apreciar a própria companhia. Sentir a brisa tocando suavemente o
rosto. Aconchego. Paz.
Enquanto a outra parte, bem, quer sair sem rumo por aí.
Jogar-se no desconhecido. Bater de frente com o mundo. Remar contra a maré.
Correr até cansar. Até perder o fôlego. Fazer bagunça, causar confusão, ser
tempestade por onde passar.
Parte de mim quer um café bem forte para aguentar pelo menos
com este aroma delicioso as noites insones. As noites em que o silêncio grita,
sufoca. Em que histórias sussurram com o vento para serem escritas, contadas e
repassadas.
A outra parte, vocês sabem, quer apenas tomar um chá e
meditar antes de se deitar. Quer focar na respiração, no ar entrando pelos
pulmões e saindo. Exalando tudo aquilo que é excesso, tudo aquilo que é tóxico,
tudo aquilo que pesa. Quer apenas entender a plenitude que uma casa e uma mente
quieta proporcionam. Parte de mim sabe onde se concentrar.
Mas a outra parte, ah, a outra parte vive transitando entre
uma ideia e outra. Um pensamento e outro. Um sentimento e outro. Milhares, para
falar a verdade. Essa parte sabe apenas transbordar. Seja em lágrimas, papel ou
palavras.
Parte de mim jura que tem uma intuição muito forte, um talento para ler nas entrelinhas, entender o que não foi dito,
encontrar a verdade por traz de cada palavra, enxergar a essência de todas as
coisas. Já a outra parte, jura que é coisa da cabeça. Resultado dos inúmeros
livros e filmes que lê e assiste.
Parte de mim é cética, enquanto a outra se pergunta o tempo
todo se não seria possível existir algo a mais. Se não temos um destino. Uma
missão. Algo traçado não em linhas, não em papeis,
não em mapas geográficos. Mas no mapa da nossa existência, da nossa alma, algo
que ultrapassa qualquer barreira física. Algo que apenas é possível sentir e
escutar com atenção nos raros momentos em que tampamos os ouvidos e fechamos os
olhos, para passar a fazer isso com o coração.
Como linhas invisíveis que nos conectam, nos puxam e nos apontam o
caminho a ser trilhado. Ou como uma música suave que narra todos os fatos da
nossa vida. Premeditando cada pequena ação nossa. Contando uma história
aleatória ou não.
Às vezes, ao fechar os olhos, parece um vazio, uma escuridão sem fim. Mas se
sentir e escutar com atenção, é essa música que uma parte jura escutar nos
momentos de calmaria e concentração, seja em uma sala lotada ou vazia. É como se o tempo parasse e os carros da rua
lá fora não fizessem tanto barulho. Todas as vozes ficam em segundo plano.
Apenas para escutar uma longa nota. E
essa nota varia de pessoa para pessoa. Vibra conforme cada um. É essa nota que aponta a direção a seguir.
Quando é o momento de ir em frente e quando é o momento de conter e refrear. Às
vezes, é possível sentir a nota de outras pessoas também, saber quando vibram
na mesma frequência que a nossa e quando estão fora de sincronia.
Vez ou outra isso vira texto, vira história, vira um conto, vira sonho.
Às vezes não vira nada. Porque, é como eu disse, parte de mim ainda teima que é
bobagem. Delírios de uma noite mal dormida e fruto da imaginação da outra parte
que aprendeu, desde cedo, a sonhar demais.
Que texto lindo Kimberly , me identifiquei muito com ele.
ResponderExcluirEu sempre dou mais atenção ao meu lado que procura a calmaraia, mas tem essa outra camada que quer aventura ,experimentar coisas novas ,arriscar...
Beijos
Meu mundinho quase perto
Oi Babi! Muito obrigada! <3
ExcluirAcho curioso pensar no quanto a gente parece transitar entre dois opostos. De hora querer calmaria, hora aventura.
Beijão
"Somos transição. Somos processo. E isso nos assusta." Destaquei esse trecho do livro que estou lendo da Lya Luft, Perdas e Ganhos e, nossa, foi impossível não pensar nela quando li seu texto. Acho que somos exatamente como você descreveu, metade paz, metade caos. Um desbalanço eterno tentando encontrar o equilíbrio entre tantas emoções, sentimentos, acontecimentos, sonhos, expectativas...
ResponderExcluirE, o que dizer desse seu texto lindo que li duas vezes, só agora, porque amei demais? Gosto da fluidez que ele tem, da mensagem que ele passa e de como tudo que leio seu é puro de sentimento, a gente sabe que, por mais que um lado tenha tentado segurar, você transborda nas palavras.
Eu precisava desse leitura hoje. Ou, pelo menos, um dos meus lados precisava. <3
xoxo
Rê
Oi Rê! Ah, muito obrigada por esse comentário lindo <3
ExcluirAdorei a frase da Lya Luft e no quanto ela se encaixa com o que escrevi. No quanto todo esse processo assusta mesmo e no quanto buscamos esse equilíbrio.
Beijão!
Que texto incrível! Super me identifico porque sou muito assim, minha vida é um eterno dilema e muitas vezes me sinto super dividida e sofro com isso haha
ResponderExcluirBeijos,
http://www.nomundodaluablog.com/
Oi Aline! Aaah fico tão feliz que tenha gostado e se identificado <3
ExcluirBeijão e muito obrigada!
Oii Kim, parabens pelo seu texto. Eu me vi muito nele. Uma sonhadora bipolar. Mas é isso mesmo, a vida nos leva para todos os lados a todo momento. Uma hora queremos paz, outra hora queremos agito e outra hora não queremos nada HAHA. Gosto do jeito que você escreve. Beijo
ResponderExcluirwww.verdadeescrita.com
Oi Rebeca! Ah, muito obrigada <3
ExcluirAdorei a frase "Uma sonhadora bipolar" combina muito comigo e com o que quis dizer no texto!
Beijão
Amei o texto achei muito poético e ao mesmo tempo muito real. Temos momentos mais calmos outros nem tanto isso é uma coisa totalmente normal somos um turbilhão de pensamentos
ResponderExcluirOi Marcinha! Obrigada <3
ExcluirGanhei o dia ao ler que achou meu texto poético ahaha
beijão!
Oi!
ResponderExcluirAcho que a gente pode ser várias partezinhas né?
Acredito muito que da para ser um pouco de tudo, e o como diria Raul Seixas, "eu prefiro ser essa metamorfose ambulante" .
Parabéns pelo texto <3
Beijo
Obrigada Débora!
ExcluirBeijão
MEU DEUS EU TO IMPACTADA MULHER!
ResponderExcluirSe eu me identifiquei demais? Com toda certeza que sim, eu tô sempre transitando de uma parte de mim a outra e acho isso incrível, pois somos infinitas possibilidades, não é mesmo?
Eu to muito apaixonada pelo seu texto, de verdade <3
Beijos da PINGUIM TAGARELA
Oi Diovana!
ExcluirAaaaah obrigada mesmo <3
Vou postar mais textinhos assim, com essa confusão que se passa por aqui haha
Beijão
Lindo texto! Conversou muito comigo e me trouxe ótimas reflexões.
ResponderExcluirVocê escreve muito bem, parabéns!
Beijos
Me chama de Bella
Oi Isabella!
ExcluirMuito obrigada <3
Beijão
Oi Kim, tudo bem? Que texto mais incrível. Acredito que a maioria das pessoas vive esse dilema entre lá e aqui. Parece existir duas pessoas dentro de nós. Sempre que penso nisso lembro de uma cena de um desenho que vi quando criança... não lembro se era pica-pau ou tom e jerry. Enfim, sempre aparecia duas "pessoinhas" no ombro dele um anjinho e um diabinho. Cada um incentivava fazer algo diferente. E ele não sabia qual voz ouvir. Creio que no nosso dia a dia acontece mais ou menos a mesma coisa. As vezes queremos café, mas pensar em chá é melhor. As vezes queremos sentar e ler, mas ouvir música e se movimentar também é legal. E assim vamos vivendo diariamente escolhendo entre dois caminhos. É errado? De maneira nenhuma. Mas é incrível perceber que o ser humano é tão complexo que não conhece bem a si mesmo. Ótima semana pra você. Beijos da corujinha, Érika =^.^=
ResponderExcluirOi Érika! Aaah, obrigada por esse comentário lindo <3
ExcluirUma coisa que você disse me chamou muito a atenção: "o ser humano é tão complexo que não conhece bem a si mesmo" Me lembra algo que minha professora disse umas semanas atrás. Não lembro das palavras exatas, mas estávamos discutindo sobre estilos e personalidades. E ela disse "e alguém aqui sabe quem é? Eu não sei. E por que a gente tem que saber?". E eu fiquei pensando muito nisso. Nem sempre sabemos quem somos, porque não nos conhecemos completamente. Costumo pensar que somos milhares em um.
Beijãao <3
Belíssimo texto mostrando a transitoriedade da vida e pensamentos, oscilando entre os opostos desejos. Gostei deste trecho "Vez ou outra isso vira texto, vira história, vira um conto, vira sonho. Às vezes não vira nada. Porque, é como eu disse, parte de mim ainda teima que é bobagem." Super beijos
ResponderExcluirOi Luma! Muito obrigada, fico super feliz que tenha gostado <3
ExcluirBeijão
Oi, tudo bom?
ResponderExcluirEu simplesmente adoro quando você traz seus textos pro blog. Sempre fico encantada, lendo e relendo até sentir que consegui absorver todo o sentimento - porque ele transborda e encanta! Nas suas palavras tem um pouquinho de cada uma de suas partes e ver isso é bonito demais, faz com que eu aceite melhor essa dualidade presente em mim também!
Abraços,
Gislaine | Literalize-se
Oi Gislaine! Ah, que comentário mais lindo!
ExcluirMuitíssimo obrigada <3
Trarei mais textinhos assim com certeza (tem muita bagunça aqui querendo sair haha)
Beijão
Seu texto me lembrou muito uma frase que eu amo: "Uma metade transbordando de obscura curiosidade e um apetite voraz por tudo o que é insano. Mas a outra metade é sonhadora e leve, cheia de coragem e lealdade". Acredito que nós, seres humanos, somos feitos dessas dualidades, e isso só ajuda a nos tornar quem somos. Amei ler seu texto, é cheio de sentimentos e dá pra ver cada uma das suas partes <3
ResponderExcluirOi Lu! Que frase linda essa, de onde é? Super me identifiquei!
ExcluirEssa dualidade às vezes é confusa, mas às vezes é só uma questão de aceitar e aprender a conciliar esses dois lados.
Beijão <3